Relações familiares podem ser difíceis, em vida, na doença, na morte e no… pós? The Surrender acompanha uma complexa relação mãe-filha enquanto o patriarca está prestes a falecer. Mas ambas tem uma maneira bem diferente de lidar com essa situação toda, o que pode trazer consequências piores que a morte em si.

Megan (Colby Minifie) sempre trocou farpas com sua mãe Barbara (Kate Burton), mas passa alguns dias em sua casa de infância para ajudar nos cuidados do pai (Vaughn Armstrong). Lidar com a iminência da morte começa a parecer o menor dos problemas já que o estranhamento dos comportamentos de Barbara entre outros eventos, começam a perturbar Megan.

Official Trailer

Um saquinho cheio de dentes embaixo da cama, falhas capilares discrepantes e pesadelos realistas. Com a morte esperada do marido, Barbara contrata um homem desconhecido que tem a promessa de trazer mortos de volta à vida após um ritual. Megan falha em convencê-la desistir da ideia e acaba se unindo a contragosto para a realização do que elas mal fazem ideia está por vir.

Este é o primeiro longa-metragem da diretora Julia Max que consegue mesclar a tensão e o sobrenatural ao mesmo tempo que destaca que os vínculos quebrados são os que mais doem nesta narrativa. Suas personagens femininas são desenvolvidas e aprofundadas mesmo que em momentos acabam parecendo vítimas de si mesmas.

A premissa do luto não elaborado como viés de trazer de volta um ente vivo custe ao que custar, está em alta em 2025. Aqui ao invés de crianças, temos um pai. Que subverte ao ser mostrado no passado como uma figura não muito complexa, mas diferente de acordo com o ponto de vista de cada uma dessas mulheres. Isso torna o filme interessante para o consumo de vivências majoritariamente femininas questionando a dependência emocional, maternidade e a deturpação do conceito de família onde espera-se que pessoas mantenham personalidades congeladas no tempo de acordo com expectativas advindas de seus rótulos e papéis familiares.

Os elementos sobrenaturais e sua falta de explicação mastigada e explícita contribuem para o espectador comprar a ideia daquilo que está sendo mostrado imagéticamente. O homem de chapéu responsável pelo mistério do ritual pouco fala e parece que pouco faz, o que pode tornar sua participação e presença meramente convenientes e incômodas.The Surrender (2025) Movie Review - Knockout Horror

Colby é uma excelente atriz que em seu barulho e caos, contrasta bem com a atuação contida e reservada da sueca Kate Burton. Suas trocas são sempre interessantes e realistas demais, e é isso que sustenta boa parte do roteiro.

Infelizmente o roteiro acaba dando muitas voltas próximo ao terceiro ato, tornando-se maçante e dissipando toda a tensão construída até ali. Até os elementos visuais e o caos crescente acabam evaporando numa tentativa de chegar à algum lugar mas infelizmente chegando à lugar nenhum. O próprio relacionamento das personagens parece ter uma resolução e um caminho na contramão da proposta como um todo. O peso emocional da narrativa também acaba por evaporar ao invés de continuar nos arrastando para o fundo do poço.

The Surrender é um filme que acaba perdendo-se em si mesmo, já que seu potencial inicial não se sustenta a partir da metade do segundo ato. A mudança de tom infelizmente não funciona. Apesar disso, Julia Max parece um bom nome na direção feminina em horror que podemos ficar de olho no futuro. 

Mesmo com suas falhas ainda torna-se um filme aproveitável dentro da suspensão de descrença e dos temas que se propõe a abordar. The Surrender fez sua estreia em outros países em março de 2025, ainda sem data para a exibição no Brasil.

The Surrender (2025) - IMDb

Nome: The Surrender
Direção: Julia Max
Roteiro: Julia Max
Elenco: Kate Burton, Colby Minifie, Neil Sandilands, Vaughn Armstrong
Ano de Lançamento: 2025

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