Um instantâneo clássico gótico do terror, Os Outros teve grande sucesso em sua estreia em 2001 e com todo o mérito. É um filme que não só envelheceu bem como não perde sua qualidade narrativa e técnica até hoje.
A religiosa Grace (Nicole Kidman) vive num casarão isolado que parece por si um personagem único. Todos os cômodos precisam permanecer no completo escuro para proteger seus dois filhos de uma fotosensibilidade severa. A chegada de novos funcionários para ajudá-la aumenta ainda mais o clima de tensão.
Tensão essa construída em cenas que mostram pouco mas acertam no timing como portas fechando sozinhas, barulhos de passos e tudo o que uma casa antiga que parece mal assombrada pode proporcionar. Iluminação real a base de velas e jogos de sombras. Além de ser ambientado no pós segunda guerra mundial onde não há notícias de seu marido (Christopher Eccleston) que foi convocado e não obteve mais notícias.
Por não basear seu horror sobrenatural no imagético, temos um foco no desenvolvimento e reações de todos os personagens. Suas frases enigmáticas, suas explosões uns com os outros e com os demais acontecimentos. E não é qualquer filme que consegue se sustentar assim e principalmente ser aterrorizante ao mesmo tempo.
O ponto de partida está nas crianças que dizem não só ver uma outra criança na casa mas como responsabilizá-la por barulhos etc. Grace cada vez mais entra numa espiral de loucura sem conseguir distinguir o que é real ou não, se pode ou não acreditar nos seus filhos e até em si mesma. A própria protagonista entra em conflito ao ser extremamente católica e negar que os acontecimentos sejam de qualquer fonte sobrenatural.
Essa ambiguidade agnóstica nos conecta com todos os personagens que em certo momento nos é muito bem colocado de que precisamos aceitar de que pelo menos, nem tudo terá uma explicação. E isso por vez, pode ser ainda mais assustador para boa parte de nós. Outra ambiguidade excelente está na relação de Grace com seus filhos. Ela os ama mas ao mesmo tempo é uma mãe que os restringe o tempo todo tendo reações agressivas, e percebe-se que a relação dos três é muito complexa para cair para um extremo ou outro.
Outro grande incômodo parte do silêncio exacerbado como parte essencial não só da “trilha sonora” mas da narrativa como um todo. Fazendo com que cada barulho se torne demasiadamente ameaçador mesmo sabendo que a casa é grandiosa e com poucas pessoas. As personagens falam em tons suaves, com a voz baixa, deixando tudo ainda mais à flor da pele. Contrastando com o símbolo de conforto e pertencimento que uma casa proporciona, aqui tudo nos leva a sensação de algo ou alguém à espreita, a falta de segurança e invasão.
Curiosamente, o diretor Alejandro Amenábar não falava inglês na época (sendo seu primeiro filme neste idioma), mas sabia que para sua história fazer sentido e atingir o maior número de pessoas possíveis, precisaria perpassar pelo cristianismo interpretado por pessoas brancas em uma língua que tivesse aceitação e identificação da indústria cinematográfica. Ele além de dirigir, roteirizou, compôs e orquestrou a música em seu filme.
As atuações de todo elenco é extremamente convincente e coerente com toda proposta e ambientação apresentadas. Nicole Kidman teve que ser convencida a continuar no projeto, quase desistindo por se sentir desconfortável com detalhes da trama. Tendo pesadelos constantes. E com certeza uma decisão acertada com todo destaque merecido quando pensamos em outras obras de horror lançadas na mesma época.
Após seu lançamento, o filme recebeu 55 indicações em festivais e eventos globais, sendo vencedor de 29 prêmios no total. Com um retorno financeiro de mais de 200 milhões de dólares, foi considerado um dos maiores sucessos de bilheteria quando falamos de filmes de horror.
O grande diferencial de Os Outros é seu famoso “plot twist” que consegue realmente surpreender o espectador desavisado. Formulando teorias, ou só curtindo a história em seu ritmo, a surpresa o torna de fato inesquecível. Surpresa na qual continua fazendo com que mais de vinte anos depois, seja um filme que se sustente tornando-se um clássico atemporal.
The Others foi lançado em novembro de 2001. É um prato cheio para assistir sabendo o mínimo possível. Uma abordagem certeira para sua época e que ainda deveria estar na lista de assistidos de todo e qualquer fã de horror. Ou até mesmo, ganhar o coração daqueles que não se identificam muito com o gênero.
Nome: The Others
Direção: Alejandro Amenábar
Roteiro: Alejandro Amenábar
Elenco: Nicole Kidman, Alakina Mann, Fionnula Flanagan, James Bentley, Eric Sykes, Christopher Eccleston, Elaine Cassidy
Ano de Lançamento: 2001