(Eva Victor usa pronomes neutros ou femininos. O texto abaixo utiliza o neutro para se referir a elu.)

Eva Victor se tornou conhecide online por conta de vídeos curtos humorísticos publicados principalmente no TikTok, mas também pode seus textos no site satírico feminista Reductress. Este segundo trabalho parece ter sido o que mais influenciou Sorry, Baby, que, através do humor e da melancolia, conta a história de Agnes (interpretada por Victor), uma mulher que passou por uma Coisa Ruim e que, ainda que não tenha sua vida reduzida a esse acontecimento, parece não conseguir seguir em frente da mesma forma que outras pessoas ao seu redor fizeram.

Mesmo sem ver o trailer, se você é mulher, provavelmente não vai demorar a entender o que aconteceu a Agnes. A história começa tempos depois do acontecido, quando sua antiga colega de quarto, Lydie (Naomi Ackie), vem visitá-la e contar que está grávida. Esse primeiro momento traz um pouco do passado em alguns diálogos entre as duas, mas o mais marcante é acompanhar a dinâmica de amigas que se conhecem há anos, e que já não se veem tanto quanto gostariam, já que Lydie se mudou para Nova York enquanto Agnes continua vivendo na mesma casa onde moravam durante os estudos, na Nova Inglaterra. Mais que isso, ela trabalha na mesma universidade onde estudou, dando aulas no lugar de quem lhe causou tanto mal.

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O filme volta no tempo em um segundo capítulo, mostrando Agnes em sua pós-graduação, uma estudante brilhante que se destaca entre os colegas e tem a admiração de seu orientador, Preston Decker (Louis Cancelmi), que descreve sua tese como “extraordinária”. Mas homens que admiram mulheres conseguem encontrar formas perversas de destruí-las, como se, ao invés de dignas de tal admiração, fossem apenas inimigas que devem ser tiradas do caminho.

A Coisa Ruim não é mostrada (o que é muito bem-vindo), mas, depois de esperarmos Agnes sair da casa de Preston por horas (com a câmera parada do lado de fora, mostrando o dia virar noite), entendemos tudo ao acompanhá-la caminhar resoluta até seu carro e dirigir para casa com um olhar vidrado, em uma cena que brilha também pela dedicação da diretora de fotografia Mia Cioffi Henry, que filmou tudo do capô do carro em movimento. Agnes conta tudo o que aconteceu a Lydie, de dentro da banheira, tentando entender o que de fato se passou e sabendo que haveria duas vidas, uma antes e uma depois da Coisa Ruim.

Mas, ao contrário do que possa parecer até aqui, Sorry, Baby não é um dramalhão. É um filme que usa momentos de humor mordaz (sem escracho) ao acompanhar uma mulher bem-sucedida na carreira que ama, que é ótima no que faz, que demonstra que o ambiente acadêmico é o lugar onde ela tem tudo sob controle. Mas, fora dali, sempre haverá a lembrança, algo que a mera visão de uma palavra “extraordinária” trará consigo uma certa melancolia. Algo que faz com que seja difícil para Agnes se imaginar no futuro, sem muito planejamento a longo prazo, vivendo apenas o presente.

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E, se o humor é uma presença forte na trama, ele está de mãos dadas com a ternura. Ao longo do tempo decorrido no filme (que não sabemos bem quanto é), Agnes encontra pessoas, conhecidos e desconhecidos, que também reagem à sua história. Aqui, o maior destaque é, claro, Lydie, a amiga que a acompanha na consulta médica após o abuso e que, depois, não questiona a forma com que Agnes lida com isso, mas a apoia incondicionalmente – o que rende diálogos engraçadíssimos. Mas há também uma cena em que Agnes está tendo uma crise de pânico e encontra um dono de lanchonete (John Carroll Lynch) disposto a ajudá-la (e alimentá-la). É uma cena curta, mas que revela muito de como Agnes enxerga a vida, e de como, às vezes, nos conectamos com pessoas que jamais veremos de novo, mas que eram exatamente o que precisávamos naquele momento.

Talvez Sorry, Baby não “pegue” todo mundo, mas é certo que qualquer pessoa vai conseguir se identificar com uma fala, com uma situação. Afinal, quem nunca encontrou um gatinho na rua e o amou imediatamente?

Sorry baby (2025)

Título: Sorry, Baby
Direção: Eva Victor
Roteiro: Eva Victor
Elenco: Eva Victor, Naomi Ackie, Louis Cancelmi, Kelly McCormack, Lucas Hedges, John Carroll Lynch
Ano de lançamento: 2025
Sorry, Baby está em cartaz nos cinemas.

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