Um conspiracionista e seu primo passam meses planejando e se preparando para executar um plano de grande risco. Eles sequestram uma CEO poderosíssima de uma grande empresa, acreditando que ela é uma alienígena disfarçada entre nós mas com o plano de destruir a humanidade. E como só eles sabem da verdade, acreditam ser os únicos com a capacidade de fazê-la confessar para salvarem o mundo.
Adaptado de um filme coreano chamado “Save the Green Planet!”, Yorgos Lanthimos se une mais uma vez com Jesse Plemons e Emma Stone que entregam como sempre, excelentes performances, traduzindo um roteiro afiado e competente de Will Tracy.
Teddy é um apicultor e trabalhador chão de fábrica da empresa farmacêutica em que Michelle comanda com maestria. Ele mora com seu primo e há anos dedica seu tempo e energia às teorias da conspiração. Ambos estão dispostos inclusive a passar por castração química para que nada os desvie ou distraia de sua missão. Mesmo ela sendo treinada em autodefesa, acaba sendo sequestrada e presa em um porão extremamente preparado para a ocasião.
Tudo funciona neste roteiro com críticas atuais, exageradas e descaradas de um público que não precisamos ir muito longe pra saber que estão entre nós. Unindo uma visão niilista da humanidade com humor satírico, nos divertimos e nos preocupamos na mesma medida conforme os acontecimentos avançam. O desconforto, os risos e o estranhamento acompanham cada cena de cada ato deste longa que tem gerado opiniões divididas de seus espectadores.
A dinâmica em tela tem uma química magistral ao mostrar personagens cheios de incoerências e imperfeições, balanceando repúdio e empatia que traz à superfície um mix de torcemos para que tudo dê certo e para que tudo dê errado para todos os envolvidos. Sustentar isso por 118 minutos não parece ser uma tarefa fácil, mas a parceria Lanthimos+Tracy me deixou sentada na ponta da cadeira desejando que ambos voltem a trabalhar juntos o quanto antes e quantas vezes puderem.
Até o personagem de Don (Aidan Delbis) é extremamente bem escrito e colocado como um contraponto dos dois protagonistas, não caindo em estereótipos devido ser uma pessoa com deficiência. Esperamos que seja o primo facilmente influenciado, mas todas suas nuances o fazem ser questionador de ambos os lados, mesmo que no fundo só esteja ali em consideração ao primo que tanto ama.
Ao que pretende criticar, principalmente nos dias de hoje, além de desconfortável pode parecer até um pouco perigoso a maneira, meios e fins que tudo se desenvolve e se conclui. Devemos sentir empatia por conspiracionistas e bilionários? A vida real está tão longe assim de uma ficção envolvendo tortura e morte? A resposta talvez não seja tão simplista como parece. Ainda assim, o filme faz-se necessário em escancarar e rir diante de tragédias anunciadas. São os detalhes que evidenciam o quanto a obra é necessária para o momento em que vivemos.
O filme foi exibido na abertura da 49ª Mostra de São Paulo, e chega oficialmente aos cinemas brasileiros dia 27 de novembro deste ano. Bugonia é mais político do que parece em meio aos seus risos nervosos, gore, violência e piadas certeiramente pontuais. Ame ou o odeie, Lanthimos cada vez mais consolida sua assinatura de crítica e estranheza em obras desconfortáveis e necessárias.
Nome: Bugonia
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Will Tracy
Elenco: Emma Stone, Jesse Plemons, Aidan Delbis, Stavros Halkias
Ano de Lançamento: 2025