Ser adolescente, imigrante e mulher pode ser um combo perigoso. Principalmente se tudo isso vem acompanhado de um demônio passado por gerações, manifestado de maneiras misteriosas. É isso que a jovem iraniana Yasi (Rose Dehgan) precisa enfrentar em sua nova vida no Canadá.

Desde criança, ela estuda inglês para afastar os demônios (diz sua mãe), e mais tarde passa a estudar comportamentos de outros jovens enquanto assiste sitcoms estadunidenses para construir não só a maneira de falar, mas entender a personalidade desse novo lugar que está por vir. E chegando lá, Yasi encontrará alguns clichês, principalmente em relação à vida escolar.

Ela é acolhida em sua classe por um grupo de três jovens bem padrão, estilo “Mean Girls”, onde Rachel (Chloe Macleod) é a loira líder que fala por todas. Elas usam as mesmas roupas, acessórios e maquiagem. Dão a entender que quase dividem o mesmo neurônio. Mas Yasi está disposta a fazer de tudo para se encaixar, inclusive aturar falas racistas e xenofóbicas. Ou pintar o seu cabelo de loiro, que é a porta de entrada para a força demoníaca em questão. Foreigner still 1 photographer saarthak taneja

Ava Maria Safai dirige Foreigner abordando temas como choque cultural e geracional, além de uma abordagem que não é nova, mas ainda faz-se necessária, sobre a busca por si e construção da identidade própria. A família de Yasi representa uma boa parte de pessoas migrantes que sofrem para se encaixar ao novo sem abrir mão de suas tradições.

Sem muitos elementos sobrenaturais de início, acompanhamos as coisas saírem do controle assim que a jovem decide quebrar as regras familiares para estar mais próxima de suas amigas. As brigas familiares são acompanhadas de surtos e principalmente de visões macabras que não sabemos se são do passado, futuro ou de pesadelos.

Seu baixo orçamento permite poucas cenas que usam e abusam de efeitos especiais ou práticos, o que não impede que a narrativa ilustre seus objetivos nos três atos do longa. Na construção da tensão no primeiro ato, o roteiro é preenchido com vários elementos que conversam bem entre si, o que acaba se perdendo no último ato e ápice da história.

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As atuações são boas dentro do possível, com destaque para Rose como nossa protagonista. Os efeitos de baixo orçamento não atrapalham a experiência, porém o terror fica sempre como uma iminência atmosférica que parece desconexo quando apresentado, sendo pouco explorado e deixando a sensação de que algo está faltando. Os detalhes deste demônio maldição com base em elementos culturais e tradicionais poderiam elevar a experiência, que acaba num geral como mediana.

Foreigner é quase um Mean Girls do terror independente. A jornada por autodescobrimento, pertencimento e autoestima é cheia de altos, baixos e horrores da vida real. Pode ser uma boa experiência para seu público alvo e um pouco simplista para nós de gerações passadas. Ainda assim tem seu valor e vale ser assistido com carinho. 

O filme está na programação da 29ª edição do Fantasia International Film Festival que termina em agosto de 2025. Ava Maria Safai pode ser um nome no radar de futuras diretoras do gênero.

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Nome: Foreigner
Direção: Ava Maria Safai
Roteiro: Ava Maria Safai
Elenco: Rose Dehgan, Chloe Macleod, Talisa Mae Stewart, Cassie Collis, Victoria Wardell, Laurel Bailey, Ashkan Nejati, Jim Maher
Ano de Lançamento: 2025

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