O folclore local é sempre um prato cheio a ser explorado pelo cinema em diversos países, especialmente quando falamos de filmes produzidos fora do eixo Estados Unidos-Europa. O terror asiático embarca com frequência em temáticas tradicionais para contar suas histórias, sendo Haunted Mountains: The Yellow Taboo um exemplo recente, trazendo para seu enredo uma lenda urbana que se popularizou nos anos 1970 e que fala de uma figura que vive nas montanhas, usa uma capa de chuva amarela e atrai desavisados para fora das trilhas, fazendo-os desaparecer para sempre.
Com direção de Chia-Ying Tsai, Haunted Mountains começa acompanhando um desses trilheiros que, perdido na floresta, acompanha o tal espectro, achando se tratar de outro montanhista. À sua morte se segue uma bonita e sinistra abertura em animação, com ilustrações em preto representando a floresta, a assombração e os turistas, tudo sobre um fundo amarelo.
Logo conhecemos nossos protagonistas e entramos de fato na história. No mesmo abrigo de montanha, Chia-Ming (Jasper Liu) é acordado por uma goteira sobre sua cama. Ele deixa a namorada, Yu-Hsin (Angela Yuen), dormindo, enquanto começa a se preparar para a trilha. Ao seu redor tudo parece correr normalmente, mas pequenos detalhes dão indícios de que algo está fora do lugar. Uma senhora tropeçando, um grupo de jovens falando de lendas de terror na floresta, um corpo no caminho quando Chia-Ming e Yu-Hsin partem para a caminhada. A estranheza chega a um ápice no fim do dia, quando Yu-Hsin comete suicídio inexplicavelmente e, antes de conseguir reagir, Chia-Ming acorda no mesmo abrigo de montanha, com a mesma goteira sobre a cama.
Chia-Ming e Yu-Hsin não estavam na montanha apenas a passeio. Anos antes, um amigo, An-Wei (Yu-Ning Tsao), desapareceu no local, e os dois nunca desistiram de procurá-lo. O sumiço do amigo, o corpo na floresta e o loop temporal em que Chia-Ming agora está preso são parte da mesma história, uma mistura de terror e drama que envolve luto, o peso de nossas cargas pessoais e os laços que nos unem. A presença do espectro da capa amarela pode ser uma representação do trauma anterior dos personagens, afinal, fantasmas nada mais são do que memórias, rastros de algo que, sem desfecho, fica condenado à repetição.
Preso no mesmo dia, Chia-Ming tenta repetidamente salvar Yu-Hsin, sempre falhando, tendo que ver sua amada morrer de formas terríveis. A câmera nunca foge de tais cenas, sempre mostrando em detalhes a dor que Yu-Hsin causa a si mesma. Esse é um dos pontos altos de Haunted Mountains, junto com a ambientação: a maior parte do filme acontece na floresta profunda, ora enevoada, ora chuvosa, em uma fotografia primorosa e opressora.
Aos poucos, com uso de flashbacks, vamos descobrindo o que aconteceu a An-Wei, bem como de quem é o corpo na floresta, e é nessas revelações que o filme perde força, por incluir muitos novos elementos que tornam a trama confusa. Rituais xamânicos trazem mais cenas interessantes visualmente, mas qualquer tentativa de explicação acaba deixando uma trama, já inflada, ainda mais complicada. Em seu terceiro ato, Haunted Mountains prolonga o drama mais que o necessário, deixando o clima de horror um pouco de lado e priorizando o romance trágico.
Parte da programação do Fantasia International Film Festival, que está acontecendo no Canadá, Haunted Mountains: The Yellow Taboo é um interessante exemplar para quem se interessa por uma boa história de loop temporal. Apesar de seus problemas, o filme consegue criar um clima claustrofóbico por conta de uma ambientação sinistra bem trabalhada. Um roteiro mais enxuto poderia entregar uma conclusão mais satisfatória, mas vale pela aventura de acompanhar esses personagens.
Nome: Haunted Mountains: The Yellow Taboo
Direção: Chia-Ying Tsai
Roteiro: Wan-Zhen Zou
Elenco: Jasper Liu, Angela Yuen, Yu-Ning Tsao, Hsiao-hsuan Chen, Spark Chen
Ano de Lançamento: 2025