É inegável que O Exorcista dirigido por William Friedkin é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos. Não somente pelo medo da possessão demoníaca, mas por sua abordagem de outros temas traduzidos pelo comportamento humano.

O choque de suas cenas, falas e subversão ainda são comentadas. Nenhuma de suas sequências chegou aos pés no que tange sua história e seu fenômeno cultural da época em que foi lançado. O trabalho de maquiagem é impecável para seu tempo. Imagens fortes, palavras ainda mais em sua obscenidade. Uma dublagem marcante para a voz de possuída. Mas principalmente intercalar o visual com sua trama e entrelinhas de uma história que nos deixa envolvidos, tensos e horrorizados do começo ao fim.

The Exorcist review – Philip French on William Friedkin's stark, demonic horror | The Exorcist | The Guardian

Em uma escavação um padre acaba liberando o demônio Pazuzu ao encontrar uma estátua. Este mesmo demônio se apossa de uma pré-adolescente chamada Reagan e acompanhamos sua mãe Chris, na tentativa de libertar sua filha de todo esse caos e sofrimento instaurados em suas vidas. Sua busca por ajuda médica, científica e da saúde são frustradas. Ela procura e pede a presença do pai da criança, que também é negada. Sem opções e desesperada, sua última esperança é recorrer a ajuda religiosa.

Chris, que por ser uma mulher sozinha em busca de solução, nunca é ouvida e levada a sério. A palavra de uma mulher é descartada pelos profissionais, mesmo que seja falando sobre sua própria filha. Quantas tragédias da vida real poderiam ser evitadas se mulheres fossem realmente ouvidas? Os homens se retiram em seu pedestal de conhecimento e fazem aquilo que o machismo a tanto tempo perpetua: taxar as mulheres de loucas. Assim como Reagan é diagnosticada tão rapidamente nas cenas hospitalares. Chris é uma mulher em crise, e em sua crise, uma mulher totalmente desprovida de suporte e acolhimento.

Uma outra metáfora, é claramente a transição de Reagan para a adolescência. Muitas mudanças acontecem quando uma menina está se desenvolvendo e passando pelo longo caminho de tornar-se mulher. O demônio personifica com a alteração da voz, do palavreado, da própria sexualidade explicitada. Uma garota que é boazinha e obediente deve permanecer assim, caso contrário torna-se rebelde, louca e inconsequente. E esse é apenas um dos motivos de encontrarmos em tantos filmes de possessão, mulheres jovens e bondosas.  

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Um homem numa jornada pessoal de redenção é quem finalmente traz uma luz no fim do túnel para toda a trama. Claro que após ver com os próprios olhos e mesmo assim, duvidando dos relatos de Chris. Os padres aqui são expostos como meros humanos, gente como a gente, durante todo o processo de exorcismo penoso e sofrido ao longo das cenas. Eles possuem medos, pecados, passados e inseguranças. A salvação vem depois que o padre Damien decide se sacrificar e morrer como receptáculo do demônio.

Além de precursor, é um excelente filme de demônio e possessão. Os famosos “jumpscares” não são o prato principal desse banquete aterrorizante. A atmosfera, os diálogos e cenas icônicas não só marcaram uma geração, como ainda reverberam na cultura pop em dias atuais. Ouso dizer que continua sendo um dos melhores, senão melhor, filme de terror de todos os tempos. Inclusive sendo vencedor do Oscar de melhor Som e Roteiro, ainda com outras dez indicações. Eu adoraria ter assistido no cinema em época de lançamento, mesmo pagando o preço de provavelmente passar várias noites em claro.

Não é de hoje que o terror é usado como um elemento principal em abordar temas sócio-histórico-culturais, e O Exorcista é uma das maiores provas disso. Seja para mostrar uma pequena parcela do que é ser uma mãe solo sem suporte, passando por uma crítica do puritanismo até a insensibilidade e descaso da ciência. Aqui o bem, de certa forma, não venceu. E existe algo mais realista, e assustador, do que isso?

The Exorcist | Rotten Tomatoes

Nome: The Exorcist
Direção: William Friedkin
Roteiro: William Peter Blatty
Elenco: Ellen Burstyn, Linda Blair, Jason Miller, Max von Sydow
Ano de Lançamento: 1973

One Reply to “O Exorcista (1973)”

  1. Interessante que o caso real no qual se inspira o livro e, consequentemente, o filme, é de um rapaz possuído, não uma garota.
    Na minha opinião é o melhor filme de terror já feito.

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