Será que existem limites para o quão cuidadosa e dedicada uma mãe pode ser? Aparentemente sim, e é isso que Run tenta nos mostrar em sua ficção baseada em fatos reais. Uma adolescente cadeirante é educada em casa pela mãe e nada escapa aos seus cuidados. Remédios, horários, estudos, acesso à tecnologias, contatos com o mundo fora da residência… tudo.

Certo dia, Chloe (Kiera Allen) descobre que uma de suas dezenas de medicações está etiquetada com o nome de sua mãe Diane (Sarah Paulson) que sempre desvia do assunto quando questionada. A jovem passa a desconfiar das respostas e atitudes dela, decidindo investigar por conta própria o que está acontecendo.

Apesar de pequenos detalhes referenciando filmes e personagens de horror, Run entrega uma tensão contida na construção de sua atmosfera. Até mesmo Sarah Paulson parece interpretar uma versão água com açúcar de tantas outras vezes que a vimos em tela. Mas o fato que merece aplauso é na escolha de uma atriz que é de fato cadeirante, acertando em contratar uma pessoa com deficiência física para interpretar uma personagem com deficiência física.Run' Review: A Wheelchair-Using Teen Tries to Escape Her Sadistic Mom

O filme toma como base o caso de Gypsy Rose Blanchard e sua mãe, Dee Dee Blanchard. O caso ganhou muito espaço na mídia em 2015 quando o crime real ocorreu. Mas no longa, temos um caminho muito diferente do que aconteceu de verdade. O que pode ser uma decepção para quem espera uma cópia fiel à famosa história já contada no documentário Mommy Dead and Dearest e na mais recente série The Act.

As boas atuações, cheias de potencial para mais, acabam não sustentando a tensão necessária para um thriller que deixa escapar a paranóia, os olhares por cima do ombro e a sensação de vigilância e espreita constante de uma mãe obcecada. 

Apesar de muita previsibilidade, a grande reviravolta final chega destoante com estranhamento e um amargor que estragam a experiência como um todo. Mesmo com o foco em apenas duas personagens, o roteiro falha em desenvolvê-las ou dar qualquer senso de personalidade ou aprofundamento. Algumas pontas soltas são tão soltas que é difícil “deixar passar em prol da suspensão da descrença”. O que pode tornar este filme ótimo para passar o tempo, porém facilmente esquecível logo em seguida da rolagem dos créditos finais. ‘Run’ | Anatomy of a Scene

O contraste entre adoecimento físico e mental poderiam ser centrais nessa narrativa principalmente quando interligados com relações familiares tóxicas. São tantos pontos que tinham potencial mesmo dentro de uma história já tão saturada e conhecida que temos um roteiro que caberia em um episódio de uma série, mas que se força caber na duração de um longa metragem.

Lançado diretamente para os streamings, o longa de 2020 parece que foi realizado exatamente para este propósito. Com direção e roteiro de Aneesh Chaganty, damos crédito por sua tentativa e por ter acertado na escolha de seu elenco. Infelizmente me senti enganada com as expectativas criadas na abertura com os créditos iniciais que parece ser o elemento mais criativo apresentado.

Ainda gosto da cena de confronto e de uma estratégia utilizada por Chloe com sua primeira frase de impacto. Mas faltou atmosfera e cenas em que estivéssemos desesperados e torcendo pela jovem. Ou aflitos cada vez mais com Diane.

Aos fãs da categoria Sarah Paulson interpretando mulheres desajustadas, também pode rolar uma decepção. Fuja! é um filme mediano que não falha miseravelmente para ser ruim demais, e nem tem qualidade o suficiente para considerarmos uma boa obra. Estreou em 2020 e ainda bem que tem duração de apenas 90 minutos.

 

Run (2020) - IMDb

Nome: Run
Direção: Aneesh Chaganty
Roteiro: Aneesh Chaganty, Sev Ohanian 
Elenco: Sarah Paulson, Kiera Allen, Pat Healy, Sara Sohn, Erik Athavale
Ano de Lançamento: 2020

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