Sam (Andrew Garfield) não trabalha, não paga as contas, vive numa apatia de ser coadjuvante da própria vida. Observa as vizinhas de sua sacada, mente para a mãe no telefone e vive num apartamento em situação lastimável, prestes a ser despejado. Até que dois acontecimentos o levam numa jornada intensa de investigação e paranóia. Primeiramente ele encontra um quadrinho autoral falando das lendas locais de Los Angeles. Depois ele se envolve momentaneamente com uma de suas vizinhas (Riley Keough).
No dia seguinte, o apartamento da vizinha está inteiramente desocupado e ele tem certeza que seu sumiço repentino está ligado com o desaparecimento do milionário da vez. Passa a perseguir pessoas, buscar códigos em músicas e se torna cada vez mais disposto a fazer qualquer coisa por uma resposta. Ou várias. E este é um dos principais problemas do filme.
Amarrando mistério atrás de mistérios, respostas que geram ainda mais perguntas, o filme traz elementos em excesso. Elementos que deveriam servir para ilustrar a crítica que faz, mas que ficam soltos e repetitivos com ações estúpidas de um protagonista perdedor que deveria representar exatamente o que se propõe a criticar.
Crítica essa sobre uma geração que precisa estar o tempo todo consumindo coisas que tragam distrações mas que vive uma vida tão vazia que busca incessantemente um significado que lhes dê uma razão ou motivação para se conectar com outros ou simplesmente que explique o porquê de suas constantes frustrações. Principalmente com os lembretes constantes de todo o ar místico e de sucesso do peso que Hollywood carrega.
O abuso de símbolos e teorias conspiracionais que vão causando cada vez mais estranhamento, infelizmente mais entedia do que entretém. Principalmente pela infelicidade de ter todas as personagens femininas sexualizadas em plena e única serventia de objeto de desejo do protagonista ou outros homens. Ainda que esteja bem servido das atuações de um elenco competente e uma fotografia belíssima com bons truques de câmera e outros elementos técnicos.
As muitas referências perdem o tom da ironia. Mistura tantos subgêneros que falha em entregar competência em cada um deles: horror, suspense, sátira, psicológico… Mesmo com uma boa ideia inicial que parece funcionar bem nos primeiros vinte minutos de filme. Depois parece se enquadrar em um grande ame ou odeie cada vez que assistir ou pensar sobre.
A incoerência de um protagonista não confiável pode parecer interessante mas infelizmente não é bem trabalhada o suficiente para que a atenção seja mantida até o final. Apesar de que infelizmente muitos homens da vida real possam ser identificados, contra sua vontade, com Sam. Como mulher, acho difícil não revirar os olhos pelo menos umas três vezes seguidas.
O nome de David Robert Mitchell na direção e no roteiro foi o que me deixou interessada para conferir essa obra de 2018, lançada quatro anos depois de seu querido, instigante e ótimo filme It Follows. Tentarei esquecer dessa associação enquanto aguardo o sucessor They Follow.
Under the Silver Lake tem 139 longos minutos de duração e pode ser encontrado em diversos streamings no Brasil. Com o pesar de ter sido uma grande decepção, coloco a culpa toda em minha expectativa pela parceria Mitchell&Garfield. Mas se você foi do time que amou, compartilhe comigo pra eu conferir se meu amargor passa ou piora.
Nome: Under the Silver Lake (O Mistério de Silver Lake)
Direção: David Robert Mitchell
Roteiro: David Robert Mitchell
Elenco: Andrew Garfield, Riley Keough, Topher Grace, Callie Hernandez, Don McManus, Jeremy Bobb
Ano de Lançamento: 2018