Mia (Caitlyn Taylor) é uma estudante de arte que não está se saindo muito bem tanto em seu curso quanto na vida. Ao ser repreendida ao apresentar uma obra em uma das aulas, ela tem um prazo curto para refazê-la e surgir com uma nova peça. Mas, ao se deparar com um bloqueio criativo, acaba recorrendo a meios alternativos para atingir seu objetivo.

Sempre avoada e fora do padrão, Mia ouve de algumas colegas que uma mulher faz doces que ajudam no objetivo de cada um. Por isso são especiais e pessoais, que só podem ser consumidas em pequeníssimas quantidades por dia, nunca tudo de uma vez. O histórico é de que tais doces eram usados por monges para meditar e caminhar entre sonhos lúcidos. E Mia recebe um aviso: tudo aquilo que a está atrapalhando precisará ser encarado, pois barreiras não caem sozinhas.

Lucid é dirigido e roteirizado por Deanna Milligan, que criou um curta de mesmo nome e proposta em 2021, inclusive disponível completo no Youtube. Sendo um filme independente, conta com técnicas experimentais e diversas para criar seus efeitos. Além do visual, temos uma trilha sonora marcante com um papel único em diversas cenas.

Mia in tunnel

Alguns personagens e momentos lembram obras de artistas como David Lynch e John Waters, como quando Mia começa a ter pesadelos e alucinações com seu passado, medos e segredos, tornando-os indistinguíveis da realidade. E os outros personagens também são tão caricatos, esquisitos e únicos como a própria protagonista. A história também se passa nos anos 90, tentando incorporar a estética da época.

Essa mescla de elementos pode funcionar para um público muito específico, talvez passando batido por quem está acostumado a consumir apenas obras muito mainstream. Além do tom constante da esquisitice, não temos atuações muito convincentes, nem quando tenta ser artístico demais ou em seus incômodos de alívios cômicos. Possui momentos interessantes, mas o roteiro não se sustenta. Algumas cenas chegam a ser longas demais, ou em que os elementos visuais não dão conta de preencher o silêncio e a falta de diálogos. Sua psicodelia é cheia de símbolos muito propositais, que talvez poderiam ser muito mais impactantes. Aos fãs destes elementos, Lucid pode ser um prato cheio e aproveitável.

Com exageros propositais, o filme parece não acertar o ritmo ou atingir o ápice de sua proposta narrativa, pois peca em sua construção como um todo. Porém, as alucinações são os elementos mais interessantes, nos deixando curiosos por não sabermos que rumo visual aquilo irá tomar, inovando imageticamente. É um filme corajoso.

Lucid não é um filme que se apoia em narrativa inovadora, plot twists ou roteiro. Para além das suas imagens, consegue deixar no centro (e ao redor) personagens femininas diversas, mesmo que não sejam desenvolvidas. Trabalha com o tema da criatividade, da repressão e da busca pela identidade que muitas vezes não condiz com o que nos é ditado socialmente, e principalmente pelo trauma como transformador dos nossos caminhos e as consequências de não cuidarmos de nossa saúde mental.

O longa faz parte da programação da 29ª edição do Fantasia International Film Festival, que acontece até agosto de 2025.

Lucid poster with credits

Nome: Lucid
Direção: Deanna Milligan, Ramsey Fendall
Roteiro: Deanna Milligan, Ramsey Fendall
Elenco: Caitlin Taylor Georgia Acken Elaine Thrash Oliveira Jamie Wollam Violet Gaffney Ayla Tesler-Mabe
Ano de Lançamento: 2025

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