Os chamados “espaços liminares” são locais de transição, espaços que usamos apenas para ir de um lugar ao outro, normalmente vazios. Imagine um corredor de hotel tarde da noite, um espaço silencioso que causa sensações ruins, onde, a qualquer momento, você pode dar de cara com irmãs gêmeas vestidas de azul. É num lugar assim que se passa Saída 8, longa de Genki Kawamura que coloca um “Homem Perdido” em uma estação de metrô de Tóquio, de onde ele não consegue sair – a não ser que siga algumas regras.

No jogo Exit 8, no qual o filme é baseado, o jogador em primeira pessoa deve seguir seu caminho pela estação, sempre em frente, exceto quando encontra uma anomalia. Nesse caso, ele deve voltar por onde veio. Cada passagem bem-sucedida pelos corredores é contada, e a saída finalmente chega quando o jogador conseguir fazer o caminho desviando das anomalias oito vezes. O problema é que as anomalias podem ser óbvias, rendendo inclusive alguns sustos, mas também podem ser bem sutis, fáceis de passar batido.
O filme começa em primeira pessoa, pelo ponto de vista do Homem Perdido (Kazunari Ninomiya), voltando do trabalho dentro de um trem lotado, onde um homem grita com uma mulher por seu bebê estar chorando. Ninguém reage, nem nosso protagonista. Ao sair do trem, ele recebe um telefonema da ex-namorada, contando que está esperando um bebê e tentando decidir se manterá ou não a gravidez. A ligação cai quando o Homem Perdido se encontra sozinho no corredor, e passamos a acompanhá-lo em terceira pessoa.

Nosso protagonista não demora a entender o funcionamento do corredor porque há uma placa explicando as regras do lugar, assim como no jogo. Ele percebe quadros diferentes, uma maçaneta fora do lugar, e até o Homem que Anda (Yamato Kôchi), aparentando vir de um trabalho de escritório, mas que passa pelo Homem Perdido vez após outra sem esboçar reação, sempre da mesma forma – exceto nas ocasiões em que se torna uma anomalia.
Exit 8 era considerado um jogo impossível de ser adaptado, mas o roteiro de Genki Kawamura e Kentaro Hirase dá conta de fazê-lo ao inserir personagens que têm alguma história fora do loop. A armadilha também é usada, no caso do Homem Perdido, como metáfora para o momento em que ele se encontra na vida, tendo acabado de descobrir que será pai, uma prisão pela pressão da possível mudança de vida. Esse é, justamente, o maior problema do filme, uma vez que essa mensagem é repetida de diversas formas ao longo da projeção, mesmo que o espectador já tenha entendido.

O que quebra a repetição é a inserção do Homem que Anda e do Menino (Naru Asanuma), seus flashbacks e suas interações com o Homem Perdido. Além de oferecerem outras perspectivas para a prisão, eles também dão pistas do lore daquele espaço, o que também é um adendo ao jogo, que não inclui nada disso. As diferentes experiências de vida das pessoas presas alimentam as demais metáforas que conseguimos identificar no filme, como nossas existências sem sentido, ou as preocupações que temos dentro de um sistema capitalista que não nos deixa enxergar o que realmente importa.
Optando por um final mais moralista dentro de um limbo de culpa e redenção, Saída 8 ganha pontos principalmente por sua capacidade de envolver o espectador no mesmo jogo do Homem Perdido, nos fazendo procurar pelas pistas a cada volta no corredor e, diversas vezes, nos fazendo enxergar o que está errado antes dos personagens, adicionando uma dose de nervoso que nos faz ficar presos à tela. Com altos e baixos, pode-se dizer que é uma adaptação bem sucedida.
Saída 8 fez parte da programação do 27º Festival do Rio, que aconteceu em outubro de 2025.

Nome: Hachiban Deguchi / The Exit 8 (2025)
Direção: Genki Kawamura
Roteiro: Genki Kawamura e Kentaro Hirase
Elenco: Kazunari Ninomiya, Yamato Kôchi, Nana Komatsu, Kotone Hanase
Ano de Lançamento: 2025
