O misticismo na dinâmica relacional entre irmãs gêmeas já é muito conhecido e abordado no horror. Aqui no nacional Gêmeas, dirigido por Andrucha Waddington, temos Marilena e Iara (Fernanda Torres) que dividem a mesma casa, o mesmo pai rígido (Francisco Cuoco) e alguns mesmos homens pelo caminho.
Suas personalidades são complementares. Iara é impulsiva enquanto trabalha com costura. Marilena é mais centrada e bióloga. Com a morte da mãe, elas estão fadadas a seguir regras extremas do pai, como por exemplo: ou ambas saem e fazem tudo juntas, ou nenhuma fará. E isso se tornará um problema ainda maior quando ambas se apaixonam pelo mesmo homem que, dessa vez, não querem dividir.
Um dos grandes destaques deste suspense é a maneira como foi filmado, muito competente em sua edição e coreografia para as interações das gêmeas em tela. Além do cuidado com muitos detalhes dando um desenvolvimento maior para a trama e as personagens.
A história pode não ser inovadora mas é sempre bom assistir algo com o nosso toque brasileiro. Utilizando o carnaval como pano de fundo, por exemplo. Os trejeitos, falas e nuances nos aproxima de todos os personagens, deixando-os realistas ao invés de clichês ambulantes.
No entanto, ainda deixa a sensação de uma grande falta que se prolonga a partir do segundo ato. Falta que talvez poderia ser preenchida se aprofundando na relação das irmãs, na construção da tensão e até se estendendo um pouco no clímax e seus desdobramentos. Com apenas 75 minutos de duração, apressou-se para chegar a uma conclusão que claramente, não poderia ser outra.
Essa não é a primeira das muitas parcerias entre o diretor e Fernanda Torres com sua mãe Fernanda Montenegro. Parceria também que se estende para a roteirista Elena Soarez, que se mostra muito capaz e perspicaz ao escrever mulheres diversas. Roteiro baseado também em obra original escrita pelo grandioso e talentoso Nelson Rodrigues. Este combo de pessoas competentes também nos traz cenas belíssimas visualmente utilizando espelhos e enquadramentos únicos num Rio de Janeiro menos solar e mais obscuro do que retratado em tantas obras que conhecemos.
Olhar para o desejo de serem únicas e donas de si pela primeira vez traz a tragédia mas mostra o incentivo por essa união referente a presença de um homem. Homem esse que não tem nada demais e que não só deseja ambas, mas se pudesse não as separaria de si mesmo. Saber o que quer realmente é libertador, mas aqui o filme mostra que pode custar caro.
As atuações são belíssimas e é extremamente satisfatório ver na prática toda a versatilidade de atuação de Fernanda Torres, quem obviamente, carrega e muda o tom de todo o longa. Entregando tudo o que esperávamos sem ser ofuscada por Evandro Mesquita e seu personagem Osmar.
A ansiedade e tensão são rápidas mas bem executadas quando colocadas. Os momentos finais poderiam ter um clímax e impacto ainda maior se voltados ao terror que está tímido e quieto nas entrelinhas. Gêmeas foi lançado em 1999 e segue um bom filme e adição ao nosso cinema brasileiro.
Nome: Gêmeas
Direção: Andrucha Waddington
Roteiro: Eliza Soares, Nelson Rodrigues
Elenco: Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Evandro Mesquita, Francisco Cuoco
Ano de Lançamento: 1999